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Plataformização do Jornalismo é tema de sessão temática de Seminário do PráxisJor

Pesquisadores apontam que a pandemia da Covid-19 acelerou e consolidou os processos de plataformização


Por Ana Vitória Marques

8º semestre do Curso de Jornalismo da UFC


Pesquisadores Jonas Valente (em videochamada), Janaina Visibeli e Rafael Costa
Janaina Visibeli, Rafael Costa e Jonas Valente durante mesa. Foto: Gruppe/UFC

Os processos e os impactos da plataformização nas relações de trabalho, sobretudo no jornalismo, foram discutidos pelos professores e pesquisadores Janaína Visibeli, Rafael Costa e Jonas Valente nos “Diálogos Intergrupos de Pesquisa”, realizado na tarde desta terça-feira (08/11) como parte do III Seminário Internacional Pensar e Fazer Jornalismo.


Entre os pontos abordados estava o conceito de plataformas. Para Jonas Valente, doutor em sociologia e pós-doutorando no Oxford Internet Institute, na Inglaterra, apesar de o tópico estar longe de ter um consenso, ele entende as plataformas digitais como sistemas tecnológicos que fazem a mediação entre as pessoas de forma ativa e fazem concorrência no mundo capitalista.


“Essas plataformas organizam os fluxos organizacionais hoje e criam aquilo que os autores chamam de jardins murados, criam barreiras para onde a gente consegue se deslocar. Elas se beneficiam do que a gente chama de efeito de rede, quanto mais gente usando-a, mais valiosa a plataforma”, explicou.


A doutora em comunicação e integrante do Centro de Pesquisa em Comunicação e Trabalho Janaína Visibeli complementa que elas são alimentadas por dados e têm lógicas próprias de extração deles.


O doutor em linguística e integrante do Grupo de Pesquisa Práxis no Jornalismo (PráxisJor) da UFC, Rafael Costa, pontuou que as plataformas funcionam por uma lógica própria e que não envolve os sujeitos que estão envolvidos nas mediações realizadas.


“Elas dizem como a gente vai produzir, em que formato e decidem as funcionalidades a que vamos ter acesso. A gente tem uma relação muito ambivalente com as plataformas. Nós trabalhamos por meio delas, mas a gente não tem acesso a essas plataformas para melhorá-las".

Jonas apontou a necessidade de se olhar os fenômenos de um ponto de vista macro, dentro dos contextos em que eles estão inseridos e atentos aos impactos que causam. Sobre isso, destaca o uso das plataformas para fins políticos, como o uso de redes sociais por movimentos de extrema-direita, e como principal mediadora nas relações de trabalho.


“Quero reforçar que, nesse cenário, tem um elemento que está crescendo muito no mundo do jornalismo, que é a plataformização do trabalho. No geral, não é só a uberização, mas um fenômeno que perpassa todas as fronteiras, na educação, como vimos na pandemia com o uso do meet, por exemplo, e agora mais forte no jornalismo”.

Nesse contexto, Janaína reforça ainda que as plataformas fazem parte de todas as esferas de vivência dos indivíduos, impactando de formas diferentes dentro dos setores produtivos e pessoais. Segundo ela,


“A pandemia materializou ainda mais isso que a gente já vinha percebendo. Nesse período, por exemplo, nós só conseguíamos nos comunicar por plataformas digitais e, às vezes, temos que usar mais de uma ao mesmo tempo, como o Google Meet e o WhatsApp”.

Ela apresentou os resultados de uma pesquisa desenvolvida pelo CPCT em 2021, que tinha como objetivo entender qual o perfil e como trabalhavam os comunicadores no contexto de um ano da pandemia do Covid-19. Ao todo, foram analisados o perfil de 96 respondentes que se autodeclaram como “gestores/produtores de conteúdo”, o que Janaína aponta como um processo de mutação da profissão.


Os dados mostraram que a maioria dos profissionais são mulheres, jovens, solteiras, sem filhos, com alta escolaridade, baixa remuneração e jornadas de trabalho superiores a 8 horas diárias. Além disso, os profissionais, que em sua maioria trabalharam na modalidade home office (67%) durante a pandemia, se responsabilizaram por garantir os instrumentos necessários para a realização de seu trabalho, o que demonstra um processo de precarização do trabalho.


Plataformização do jornalismo no Ceará


Rafael Costa trouxe uma perspectiva regional da plataformização, apresentando dados relativos às implicações desse processo no jornalismo feito no Ceará. A pesquisa teve como base a pesquisa de tese de doutorado, em andamento, de Mayara de Araújo, e a tese de doutorado de Naiana Rodrigues.


Os resultados mostraram que houve uma intensificação da dependência das plataformas após o período de home office na pandemia, em que as ferramentas e práticas foram incorporadas às rotinas de produção. Além disso, houve também o que Rafael chamou de desespecialização do trabalho jornalístico, se distanciando dos referenciais deontológicos clássicos da profissão e se configurando como "produção de conteúdo”.


Uma terceira implicação observada foram as incertezas sobre sustentabilidade. “As empresas e plataformas lucram, mas isso não é revertido para o profissional jornalista e os veículos de comunicação”, explicou Rafael, citando que o cenário de fragilização dos modelos de negócio em âmbito local foram agudizados.

Jonas Valente ressaltou os caminhos de pesquisa sobre o fenômeno estudado: “Não é sobre abolir a plataformização das relações sociais, mas é garantir que esse processo não seja responsável por precarizar ainda mais o trabalho”.


Sobre os “Diálogos Intergrupos de Pesquisa”


Os “Diálogos Intergrupos de Pesquisa” integraram o III Seminário Internacional Pensar e Fazer Jornalismo, que realizado pelo Grupo de Pesquisa Práxis no Jornalismo (PráxisJor) da UFC, e foi dividido em três áreas temáticas: Jornalismo e Decolonialidade; Plataformização do Jornalismo e Jornalismo Periférico. O evento reuniu membros do PráxisJor e convidados que integram grupos de pesquisa de instituições universitárias brasileiras e do exterior e foi realizado de modo híbrido.


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