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Opinião: "O trabalho jornalístico na mídia independente: modos plurais de ser e fazer"

Por Luan Matheus Santana, doutorando em Comunicação (UFC) e membro do Grupo de Pesquisa Práxis no Jornalismo (Práxis-Jor/UFC)


Luan Matheus é doutorando na UFC e escreveu este artigo sobre as realidades do Jornalismo independente no Brasil (foto: acervo pessoal)


Jornalismo alternativo. Jornalismo Independente. Jornalismo de base comunitária e popular. Essas iniciativas, embora não sejam novidades, têm ganhado novos contornos na atualidade, sobretudo, a partir da apropriação social das tecnologias que construíram outras condições de acesso às infraestruturas de produção de conteúdos jornalísticos.


A ampliação do acesso à internet e aos dispositivos de acesso, ainda que de modo muito desigual, tem criado pequenas rupturas que, somadas, apresentam um grande potencial de transformação sobre a forma de pensar e fazer jornalismo. Mundialmente, começamos a experimentar esse potencial na Primavera Árabe, em 2008, onde o uso das redes sociais abriu um novo canal de mobilização social e política.


No Brasil, as jornadas de junho de 2013 representam um marco importante para o jornalismo alternativo e independente. Provou-se ser possível (e necessário) fazer jornalismo crítico e sem amarras mercadológicas, com qualidade, responsabilidade social e com uma outra estética comunicacional (como nos lembra Ivana Bentes). Mostrou um caminho possível para superar o cenário de subserviência do jornalismo mainstream às lógicas de mercado e aos interesses políticos e individuais dos grupos empresariais.


Hoje, quase 10 anos desde as Jornadas de Junho de 2013, o número de iniciativas tem se ampliado, assim como seus modos de fazer jornalismo, cada vez mais plurais e inovadores. Em 2022, pela primeira vez, a pesquisa do Perfil da(o) Jornalista Brasileira(o) trouxe dados relacionados aos profissionais que atuam em veículos independentes, possibilitando diferentes análises e reflexões acerca da atuação profissional e percepção dos jornalistas que atuam nesses veículos.


A principal delas talvez seja a possibilidade de sustentabilidade financeira, onde esses veículos conseguem não apenas sobreviver, mas oferecer condições de trabalho a muitos profissionais. A questão financeira, historicamente, se apresenta como um entrave para iniciativas independentes que, por diferentes caminhos, parecem começar a encontrar soluções.


A pesquisa mostrou que as iniciativas de jornalismo independente, em seus diversos âmbitos de atuação, incorporam cerca de 1 a cada 10 jornalistas que trabalham na mídia, abarcando 10,5% de todas a(o)s trabalhadora(e)s jornalistas da mídia no Brasil.


Nas redações, o ambiente de trabalho também parece se estruturar sobre outras condições e relações, o que gera um maior sensação de liberdade e, porque não, felicidade no ambiente de trabalho. Entre os respondentes de mídia independente, 87% declaram estar ‘muito satisfeitos’ com a linha editorial e 65% apontam ter total liberdade de expressão. Esses números, comparados aos veículos convencionais, demarcam a diferença.


Por outro lado, a pesquisa também dá conta de reforçar o caráter contestador e crítico desses veículos, inclusive, em relação ao jornalismo convencional. Isso fica perceptível quando quase metade dos jornalistas de mídias independentes (48,3%) afirmaram já ter recebidos ataques e ameaças por conta do seu trabalho, enquanto no jornalismo mainstream esse percentual é de 29,1%.


Vivenciamos, portanto, um momento de transição, onde as iniciativas alternativas e independentes começam a estruturar suas relações de trabalho e ampliar sua capacidade de produção. Um cenário que favorece o surgimento de um outro nicho de trabalho aos jornalistas brasileiros, onde o caráter contestador e crítico se mantém como uma forte característica.


Além disso, a liberdade no ambiente de trabalho parece emergir como uma prática inerente a esse modo de fazer jornalismo. Um cenário que poderá ser melhor avaliado em pesquisas futuras.

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