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Jornalismo a partir de olhar periférico é tema de discussão em pré-evento da SBJOR 2022

A conversa aconteceu na 3ª sessão temática dos “Diálogos Intergrupos de Pesquisa”, evento do III Seminário Internacional PráxisJor


Os pesquisadores Edgard Patrício, Dennis Oliveira, Isaías Fuel e Lázaro Mabunda discutiram nesta terça-feira (08/11), sobre o jornalismo feito, no Brasil e em Moçambique, a partir da perspectiva de pessoas historicamente silenciadas pela mídia tradicional e compartilharam experiências de iniciativas de jornalismo periférico.


A mesa teve início com a fala do doutor em comunicação e integrante do Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação (CELACC) da USP Dennis Oliveira. O pesquisador fez uma apresentação sobre o contexto de crise do jornalismo brasileiro que, para ele, é marcado pelo fim do monopólio do jornalista como mediador preferencial da vida cotidiana.


Segundo Dennis, isso é um problema estrutural, que tem como possível solução a produção de uma comunicação popular. O jornalismo, nesse contexto, deve ser entendido como ação cultural pela emancipação.


“Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho, os seres humanos se libertam em comunhão”, disse Oliveira, citando Paulo Freire, para explicar o papel libertador que a comunicação social deve assumir. Esse caráter deve ser colocado em prática para pôr fim à cultura do silêncio instaurada no país, que não reconhece as pessoas periféricas como sujeitos.


Edgard Patrício durante mesa do III PráxisJor. Foto: Gruppe/UFC

O doutor em educação e coordenador do Grupo de Pesquisa Práxis no Jornalismo (PráxisJor), Edgard Patrício, explica que as iniciativas de jornalismo independente e periféricos não devem ser percebidos como se fossem algo novo e reativos ao jornalismo tradicional, mas como ações existentes desde que este surgiu e se instalou.


De acordo com ele, o movimento que se observa agora é de uma nova onda, uma potencialização dessas iniciativas, sobretudo com os resultados das políticas de cotas e de acessibilidade nas universidades.


“É um novo olhar desses estudantes que chegam à universidade, essa visão universalista do jornalismo de uma certa maneira vai ser ser questionada com a realidade das periferias. Periferias no plural, porque a gente quer trazer esse olhar de diversidade dos contextos e esse olhar periférico se aproxima da perspectiva de decolonialidade”.

Essas possibilidades do fazer jornalístico para além da concepção dominante traz consigo também desafios, entre eles a dificuldade de acompanhar as equipes, devido a virtualização e a questão da falta de periodicidade, em decorrência da ausência de independência financeira de editais.


Apesar disso, Edgard apontou que a dimensão da territorialidade, estudada por ele, se apresenta como um caminho para essas iniciativas se expandirem: “O Território como espaço de uso, o Território é múltiplo e complexo. A territorialidade é mais potencialidade no espaço virtual, o que permite a ideia de pertencimento a vários espaços, permitindo a expansão”.


O pesquisador, jornalista de investigação no Centro de Integridade Pública (CIP) e coordenador do Pilar de Jornalismo Investigação Lázaro Mabundo, de Moçambique, falou que o jornalismo periférico em Moçambique é embrionário e apontou como causa a recente independência do País. Segundo ele, a imprensa e o processo de democratização ainda estão caminhando.


Lázaro elencou algumas dificuldades enfrentadas por Moçambique, entre elas uma censura institucionalizada, uma estrutura forte que controlava a imprensa e essas marcas antidemocráticas se refletem no jornalismo construído hoje.


Outro ponto apresentado foi a diversidade étnica e linguística, o que dificultava uma comunicação que alcançasse todos os moçambicanos. O país possui mais de 20 línguas nativas e, segundo a Unesco, apenas 17% dos moçambicanos falam português como primeira língua.


Neste contexto, as rádios comunitárias ganham ainda mais importância, sendo fonte de informação e de afirmação da identidade do povo moçambicano. Apesar disso, Lázaro destaca a falta de especialização da profissão de jornalista entre os comunicadores comunitários, o que se apresenta, em alguns momentos, como um problema.

Sobre os “Diálogos Intergrupos de Pesquisa”

Os “Diálogos Intergrupos de Pesquisa” integraram o III Seminário Internacional Pensar e Fazer Jornalismo, que realizado pelo Grupo de Pesquisa Práxis no Jornalismo (PráxisJor) da UFC, e foi dividido em três áreas temáticas: Jornalismo e Decolonialidade; Plataformização do Jornalismo e Jornalismo Periférico. O evento reuniu membros do PráxisJor e convidados que integram grupos de pesquisa de instituições universitárias brasileiras e do exterior e foi realizado de modo híbrido.


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