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Disciplina de Jornalismo Internacional recebe o jornalista e professor Bruno Viana


Jornalista e doutor em Informação e Comunicação em Plataformas Digitais pela Universidade do Porto (Portugal).
Bruno César Brito Viana

A disciplina opcional de Jornalismo Internacional, ministrada pela professora doutora Maria Érica de Oliveira Lima, recebeu, no dia 28 de maio, o convidado Bruno César Brito Viana. O jornalista atua em áreas relacionadas ao Jornalismo Internacional e defendeu sua tese de doutorado “O Brasil que é notícia: Um estudo das representações do Brasil nos media online portugueses em 2016” na Universidade do Porto, em Portugal, país em que residiu durante 4 anos.

Durante a aula, Bruno contou um pouco de sua trajetória profissional, experiências de vida fora do país, aspectos do Jornalismo Internacional e imagem do Brasil na imprensa portuguesa. Com um tom bem humorado, ele discursou a respeito da atual situação política brasileira e encorajou os presentes a lerem mais sobre suas raízes.

Além disso, indicou diversos livros que versam sobre temáticas nacionais e internacionais. Segue a lista com algumas indicações de Bruno:

Diplomacia - Henry Kissinger

A Elite do Atraso - Jessé Souza

Jornalismo Internacional - João Batista Natali

Paz e Guerra - Kenneth Waltz

Fascismo - Madeline Albright

Os Arquivos Snowden - Luke Harding

Organizações Internacionais - Monica Herz

Brasil e Estados Unidos - Ricardo Lessa

Correspondente internacional - Antônio Brasil

Correspondente internacional - Carlos Eduardo Luiz da Silva

Deu no New York Times - Larry Rohter


Aula remota de Jornalismo Internacional.

A estudante de jornalismo Euziane Bastos, aluna da disciplina de Jornalismo Internacional, realizou uma entrevista pré-aula com Bruno e o questionou a respeito dos principais pontos que suas pesquisas englobam.

Euziane - Como você vê o Jornalismo Internacional a partir de suas experiências?

Bruno - Com base nos anos de pesquisa que desenvolvi em Portugal e tendo o Brasil como objeto das peças jornalísticas analisadas, avalio que a editoria internacional, em quatro dos maiores jornais portugueses (amostra do meu estudo), segue uma tendência global das redações jornalísticas: corte de custos. Isso acarreta em menos profissionais qualificados para as diversas funções exigidas, bem como a sobrecarga para os poucos contratados. Também se observa o uso massivo de material informativo de agências de notícias, além da internet e mídias sociais como fonte de informações e de pauta. Ainda há cada vez menos o uso de correspondentes internacionais. O resultado são notícias “repetidas” em diversos jornais, os quais falam da mesma coisa, praticamente com o mesmo texto. Para além disso, observa-se uma profusão de discursos sobre um acontecimento de um país estrangeiro, já que os jornais se utilizam do discurso de jornais locais ou das redes sociais, sem realizar o trabalho básico do jornalismo: a apuração, uso de fontes diversas e a checagem dos fatos. Todavia, sabe-se que o custo de um correspondente é muito alto e inviável para empresas de comunicação, cada vez mais, em crise financeira. Porém, os que ainda têm correspondentes investem em reportagens mais contextualizadas, bem como apresentam notícias com temáticas diversas das agências de notícias.

Euziane - Você acompanha as notícias do Brasil?

Bruno - Sim, continuo a acompanhar. Na verdade, sempre acompanhei durante toda a minha trajetória acadêmica, na qual investiguei a representação do Brasil nas editorias internacionais mundo afora. Comecei em 2009, nos EUA, e continuei em 2012 em Portugal, período esse que se estende até os dias atuais. Nesses anos, tive a oportunidade de ver imagens positivas e negativas sobre o Brasil, do “boom” ao fracasso econômico; da ascensão social e recebimento de grandes eventos mundiais, para uma posição atual de pária e irrelevância. Entretanto, algumas imagens e estereótipos a respeito do Brasil e seu povo seguem no jornalismo global, independentemente da fase econômica ou política do país. Tais imagens remetem ainda ao Brasil colonial, tendo perpassado o tempo e que nunca saíram do imaginário estrangeiro.

Euziane - O que acha mais preocupante em nosso contexto (brasileiro)?

Bruno - O jornalismo brasileiro, no tocante a suprir demandas informativas de jornais estrangeiros, sempre foi marcado pela sua desestruturação e falta de visão global. Com isso, quero dizer, que nunca se investiu no jornalismo local, vislumbrando-se um Brasil de relevância internacional. Sempre foi difícil encontrar, em jornais locais, notícias numa versão em língua estrangeira. Porém, a presença de correspondentes internacionais e de escritórios de agências de notícias foram fundamentais para que houvesse um maior fluxo informativo sobre o Brasil no restante do mundo. Nos últimos vinte anos, porém, observou-se um maior investimento dos jornais locais em versões para estrangeiros, bem como uma maior abertura para parcerias com jornais de fora. Iniciativas como a da Folha de São Paulo, com o Folha International(notícias em inglês/espanhol) atendem a anseios antigos dos profissionais de fora. A chegada de novas agências de notícias e a abertura de sucursais locais de grandes empresas de mídia global também ajudaram a trazer luz ao antigo apagão e dificuldade de se saber mais sobre o Brasil mundo afora. Já em relação ao que o jornalismo brasileiro fala de outros países, observa-se que também se baseia muito no material produzido pelas agências de notícias. Diferenciam-se, apenas, aqueles veículos que possuem correspondentes, que tentam trazer uma informação diferente e mais contextualizada, bem como em tempo real, seja com entradas ao vivo na TV ou com vídeos na internet.

Euziane - Que visão o Jornalismo Português tem do Brasil?

Bruno - De forma bastante resumida, posso afirmar que a mídia daquele país segue uma tendência internacional ao falar do Brasil: estereótipos negativos no tocante à violência urbana; inoperância das instituições públicas e todos os problemas decorrentes da corrupção, seja na política ou na sociedade civil brasileira. Digo tendência internacional na cobertura do Brasil, a considerar os diversos estudos acadêmicos que comprovam tal tese. Ainda sobre Portugal, dadas as relações históricas e culturais com o nosso país, é bastante evidente a cobertura de temas como “cultura”, a partir dos diversos produtos da indústria cultural brasileira e seus atores/artistas. Há um destaque para a música, as telenovelas, a literatura e o cinema, por exemplo, todos esses bastante consumidos em Portugal. Outro tema de bastante evidência são os esportes brasileiros e seus atletas, com bastante evidência para o futebol, equipes e jogadores, muitos desses que também atuam ou já atuaram em equipes portuguesas.

Euziane - Quais suas dicas/recomendações para os estudantes que desejam seguir carreira no Jornalismo Internacional?

Bruno - A principal recomendação, num cenário atual de democracia frágil e escalada de ataques à imprensa, é: Resistam! Não desistam dos seus sonhos e planos, mesmo numa conjuntura tão adversa. Para além dos tempos sombrios a serem superados, invistam em conhecimento cultural. Abram suas cabeças, por assim dizer de uma forma bem clara e objetiva. Leiam muito, sobre tudo. Questionem, mas não deixem de aceitar o diferente, o novo. Busquem compreender o "Outro", a partir do exercício da empatia e da busca de conhecimentos culturais. O respeito deve ser sempre um importante balizador das nossas ações.Estudem relações internacionais e tudo que envolva geopolítica. Também busquem conhecimento técnico sobre como produzir uma boa peça informativa, em cada etapa e sozinho. Deem atenção às novas mídias digitais, mas não deixem de lado os conhecimentos trazidos por mídias tradicionais como a TV, o rádio e a imprensa. A convergência está em tudo e deve ser nossa aliada também na produção de material informativo. Não esquecer jamais do básico do jornalismo: é um serviço público! Chequem sempre os fatos e apurem as diferentes versões. Contextualizem suas matérias e tentem sempre buscar um olhar mais atento e humano à realidade local estrangeira.

Saiba mais sobre Bruno Viana

Bruno César Brito Viana é doutor em Informação e Comunicação em Plataformas Digitais pela Universidade do Porto (Portugal); mestre em Estudos da Mídia pelo PPgEM/UFRN e jornalista, graduado pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Atua como consultor acadêmico, tendo sido professor do departamento de Comunicação Social da UFRN e pesquisador-bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). É fluente em Inglês e Espanhol e possui experiência em assessoria de comunicação, cobertura de eventos, editoração e TV. Dentre seus trabalhos, desenvolve investigação sobre o Brasil no contexto do Jornalismo Internacional e do Ciberjornalismo.

Alguns artigos publicados de Bruno:

Contato:

Euziane Bastos

Estudante de Jornalismo (5º semestre) da UFC

euzianebastos@alu.ufc.br | @euzianebastos


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